É preciso que se traga
um cão sempre ao lado
pois,que ao se preencher
essa lacuna,vaga,
catar seu cocô na calçada
e todo o cuidado,
é que se pode viver,
assim,
sem rever
aquele antigo
sim,
então desprazer...
Ah, esse (tão canino) amigo...!
Em uma de minhas muitas leituras me"disseram"mais ou menos assim:"se você gosta,escreva,conte sua história,nem que seja somente para os de sua família".Ouso na Prosa Poética e,então,esta não será uma história linear.Deve se parecer com uma colcha de retalhos que o leitor terá que,ele mesmo,ir costurando aqui e ali.Seja,então, um edredon aconchegante,recheado de metáforas...Espero que goste,que se identifique...e também se anime a ser um contador de histórias!
E agora,
deitar-me
e pegar um livro,
até o sono chegar...
Não sem, antes,
deixar a janela
aberta,
que você irá voltar...
Passará ao largo,
quando for nascendo
o dia
e, assim, imagino,
os seus pensamentos
virão
sem os obstáculos
da veneziana
e da vidraça,
chegarão até mim
com a brisa
da praia,
como um ensaio
metafórico
até o sonho
chegar...
11/09/2023
Vidas são salvas
aos bocados, afinal,
todos os dias.
Carinhos e sorrisos
pela manhã,
palavras escritas
à tarde,
um aceno
pela janela
quando já é noite.
Curativos
para os desencontros,
remédios
para o mal estar
de não estar
com quem se quer.
É quando fechamos
os olhos e nos
dizemos sem falar,
no mais íntimo
do ser:
isto salvou o meu dia
(a minha vida).
Eis que me chega
a que parece ser
a pior notícia
do ano,
anunciada para a semana,
que o mês de agosto
sempre teve essa pecha
de mau agouro.
Uma piração aqui,
que até o corpo sentiu,
a pressão subiu...
Mas, deixa estar,
inverno ainda;
e há de esfriar
um pouco mais
aquele angu
que já desandou,
sem sabor
faz tempo,
pegajoso agora...
Deixa estar,
que logo chega a primavera
a atiçar os sentidos;
e a fome
há de permanecer,
exigente,
e se firmar nesse gosto
que, então,
lhe apetece e sacia,
servido quente
em prato fundo
desde o outro,
para mais um verão.
Você esteve
no abismo
e não contava
com a minha amizade...
Sinto muito,
sempre sentirei,
por não ter sabido,
pela distância
que nos interpôs
por circunstâncias
alheias à nossa vontade.
Eu queria
ter estado ali
ao seu lado,
próxima,
na sala de espera,
esperando a sua volta
quando o seu coração
parou.
Ainda bem que voltou.
Sim,
eu estaria ali perto
se soubesse das suas dores
e seu medos
quando alguns órgãos
pararam de funcionar
e quando inseriram cateteres
no seu corpo.
Os anjos
lhe trouxeram de volta,
afinal,
para os nossos cafés
e vinhos
e conversas.
Apenas agradeço.
Renasceu, enfim,
(sempre bela),
que esse é o seu nome!
Mana, beba esse café
e abra os olhos
como fosse a primeira
manhã a lhe acordar
de verdade.
E enxergará.
Aproveita, e sai
do caminho.
Faça o seu,
que este já não é.
Um gole do café -
orgânico -
e agradeça ao fruto
como também eu,
um dia,
agradeci.
É o que fica, afinal,
após o fim
do primeiro ato.
Não me leve a mal,
que será para o bem.
É incrível, é soror!
Cortinas fechadas,
pausa para um café
nas coxias.
Sair de cena,
valeu o ensaio.
Ao voltar ao palco,
se sentirá só
(sim eu sei como é).
Mas, afinal, se você
for lembrar, mana,
já era um monólogo...
Então, inove,
convide alguém
da plateia,
para um café.
Novo script.
Aplausos.
Só pode ter sido
um anjo torto
como o do poema
de Drummond
ou safado
como o da canção
de Chico
quem me trouxe
essa felicidade
tão intensa
quanto incompleta!
Posto que a completude
inexiste,
toda essa potência
me interessa mais.
Cada minuto valendo
muito a pena,
a pena da desejada
onipresença
que , aliás, inexiste também,
a não ser para o anjo
ainda que torto
ou safado, assim...
"Vem aqui,
vamos tirar uma foto!"
E nos sentamos,
lado a lado,
diante do espelho.
E nos vimos,
refletidos
em harmonia,
já recompostos
do amor feito.
E você soube
que somos
e eu nos enxerguei
tão parecidos,
irmãos,
mas não disse.
E a imagem
ficou gravada
(apenas,
e isso é muito!)
na sua mente
para - tomara (!)
- lhe dar coragem...
Na minha,
para doer
até que seja.
Eu,que tanto falo
em liberdade,
estou presa aqui,
com você,
na amplidão infinita
deste lugar,
céu e mar.
O quanto posso
contra a força
da maré?
Pois a dor que senti,
esta sim imprevista,
ainda não conhecia.
Nó na garganta
de um dia inteirinho
e a pergunta que se faz
para si:
vale a pena
abarcar esse sentimento
que, vez ou outra,
emergirá, em forte onda?
Respondo-me que sim...
Mas, enfrentar a maré,
até quanto posso?
Até que mude.
Ou eu me mude.
Falta-me o ar,
às braçadas,
para traçar
o plano de fuga.
Um barco
que aviste,
sair da ilha,
tábua de salvação.
Comprou cadeiras novas.
Trocou a televisão.
Pensa em comprar um espelho.
Acha que mexer na decoração
vai melhorar
a sua zona de conforto?
Mente.
Não, não espere sentado.
Não fique assistindo
a vida passar,
seja!
Veja a sua imagem
refletida,
o quanto já não combina
com o ambiente.
Sente?
Na sala,
a lona do confronto
consigo mesmo:
a luta pela vida
que deseja.
Do amor,nada sabemos
do gosto,
do perfume,
do contorno que dá
ao que se vê...
Das sensações que traz,
fugidias sempre,
e que escapam
líquidas e palpitantes,
fica um calor
pouco duradouro
mas que deixa ímpetos
de buscar sentir
de novo.
Do amor,nada sabemos.
Apenas que não há um
-tem o de agora
como houve o de antes -
pois que são,
são instantes...
No início,quando se viu só, a sensação era mais um reflexo do que supunha que vissem nisso e a incógnita causava um desassossego.
Levou um tempo mas percebeu que, mais do que uma simples estranheza era, sim ,curiosidade,uma espécie de encantamento com uma pontinha de medo o que causava.
Foi então que começou a dar passos firmes e largos,aproveitando-se da situação de provocar um temor de que estruturas fossem abaladas sob seus pés.E caminhou em frente,altiva,plena,livre!
02/03/2023
Na tarde
morna
após a manhã
ardente
e voltou.
Molhou
meus pés.
Pés no chão!
Desmanchou
o enleio (?)
Castelo de areia
e solidão...
14/01/2023
Incrível como a praia
hoje estava em festa!
As ondas brilhavam
mais vivas
em branca espuma
arrematando, como rendas,
a água límpida
que refletia
o azul do céu
com poucas nuvens
(rendas também!)
Azul é a cor
do manto de Iemanjá
e por isso a manhã
veio vestida de festa
nesse dois de fevereiro.
Sol, ilhas, pedras, mar...
Vi aves marinhas
de quatro espécies
pelo menos:
Quero-quero, Garça,
Gaivota e Mergulhão:
os Biguás, de bando,
esvoaçavam
em brincadeira:
a festa da pescaria!
Apenas avistei algumas
rosas brancas
na areia molhada,
que minha oferenda
foi meu olhar,
todo contemplação.