quinta-feira, 23 de abril de 2020

Doce Saudade

Um robô simples de engrenagem perfeita, até então duradoura:vinte e oito anos de trabalho.Uma vida!

Foi uma personagem importantíssima nas grandes comemorações; e nas pequenas alegrias cotidianas, que se podem traduzir em um lanche especial com as crianças em uma tarde chuvosa.

Bateu as massas.E incrementou os recheios.E deu um toque sofisticado de marshmallow às coberturas quando era dia de festa:os famosos Bolos de Aniversários!Em dias de festa,é preciso dizer,operada por mãos bem mais habilidosas do que as minhas:as da minha mãe,que até hoje faz bolos de qualquer jeito,até mesmo com seu próprio muque de mulher magra e com uma colher de pau.Mulher forte!

Um robô simples,uma personagem importantíssima,no entanto.

Presente da minha única e querida tia,foi uma sábia escolha dela,se falarmos de presentes como lembranças e de sermos lembrados pelos presentes que damos.Pois,em todas as vezes em que essa máquina operava,eram as dos momentos felizes e de reunião da família.Então,mesmo estando nos Estados Unidos ou em Curitiba,ultimamente em outra dimensão,a minha tia também estava lá,como uma doce saudade.

Pois bem,para encerrar essa crônica,tenho a dizer que a minha batedeira caiu e espatifou-se no chão da cozinha,curiosamente no dia do aniversário de nascimento de quem me presenteou com esse modelo Wallita,bem anos noventa.

É verdade que os espíritos amigos vem nos visitar e por vezes brincam conosco e nos alegram com suas lembranças.E foi o que aconteceu em um dia chato de quarentena em Santos,20 de abril de 2020,pandemia.







Tia Luizete - simpática,charmosa,inteligente e...boa cozinheira - presente!

Da janela,senti a brisa da maresia,"perfume" do qual ela tanto gostava...

sexta-feira, 10 de abril de 2020

Pandemia

Inimigos microscópicos saltam de hospedeiro a hospedeiro e, poderosos, no meio do caminho se deixam ficar em superfícies,depositam-se próximos,à espreita,para continuarem vivos.

Vivos como ameaça da infecção e virulência, nos impõem,com gritos silenciosos:

"Suas mãos estão sujas!

Não se toquem!

Mantenham distância!

Não falem,não tussam,contenham suas falas enfáticas e emocionadas,com saliva.

Fiquem com suas telas frias! Não eram o que preferiam à luz do sol,ao ar puro,aos encontros?

Verão como é não receber um toque humano,essa solidão de que muitos padecem antes de nos espalharmos pelo planeta!

Ao menos os animais podem passear mais livres por seus habitats,como deveria ser.Menos gás carbônico.Uma pausa para se respirar.Ar."

Humanos de grandeza enfrentam e protegem-se como podem do que não enxergam.Aliás,engrandecidos pela Ciência,é através dela que sabem do invisível perigo para dele se precaverem e continuarem vivos.

Vivos,contra a ameaça da infecção e virulência,resistem,com orações silenciosas:

"Queremos mãos e corações limpos!As mentes,como as casas,arejadas!

Quando voltarmos a nos tocar será uma nova era...

Essa distância temporária nos aproximará definitivamente.

Aquecemos as telas da televisão,do computador e do telefone celular,com as nossas emoções projetadas nos filmes,noticiários e conversas de vídeo, que nos mobilizam entre lembranças do passado e desejos de futuro.E temos os nossos livros para o repouso ensimesmado.

Compreendemos melhor a dor dos que sempre foram sozinhos no mundo antes de tudo isso e prometemos ficar mais atentos daqui por diante.

Nas imagens que nos chegam da natureza exuberante por esses dias,ansiamos por admirar as paisagens e todas as vidas em nosso caminho com mais respeito e encantamento

Não pedimos a saúde como um milagre gratuito para nos livrar do mal.

Pedimos - com a razão - a luz divina a inspirar mentes que produzam o conhecimento para a prevenção e a cura."