segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Antefruto

Quando setembro vier, 
trazendo todas as cores, 
não será um jardim qualquer 
que terá todas as flores... 
...tão plantadas em mim! 
Há muito,primavera, 
no coração de quem (a)espera...

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Paradoxo

Não contamos a ninguém como o nosso amor nasceu,embora tenhamos o ímpeto de gritar aos quatro ventos,segredo improvável sussurrado ao universo...

Nos conhecemos em circunstâncias do mundo moderno e,no amor,nos reconhecemos bem antiquados...

Não aceitávamos qualquer idéia de separação,embora esse evento,acontecido para cada um de nós num passado mais ou menos recente, é que tenha propiciado o nosso encontro nessa vida...

O que trouxemos desse passado mais ou menos recente nos é absolutamente precioso mas gera interferência e conflito.

Somos,enfim,almas sofridas,despedaçadas em partes que nos dispersam...

Mas a atração é irresistível e forma um todo de confusão e permanência,com a dor permeando até o enfim sós - oposto da solidão -da maturidade,prestes a chegar,trazendo consigo a perene presença do cuidado,da companhia,para todo o sempre e além dessa vida...




terça-feira, 15 de abril de 2014

Sobre pessoas e plantas:a metáfora do cuidado

Era de sua natureza o cuidar.Inclinação sutil na infância,a se revelar na juventude pela escolha do ofício,pouco conhecido em sua verdadeira complexidade.
Mas ela nunca sentiu a necessidade de ficar se explicando quanto as suas excêntrcas escolhas,com ares de pioneirismo romântico.
Sorria,frequentemente,de si para si,altiva, com a aura de sensualidade atribuída aos seus gestos e função.
Deslumbrava-se,tola e secretamente,ao saber-se em locais inacessíveis para tantos,bem próxima às fronteiras da vida nascente,do sofrimento,da solidão,da miséria humana,da solidariedade feita de urgência.
Tinha para si o valor maior do cuidado,independente da cura:realização.
Realização ainda por se fazer plena,até então como um curso preparatório para a sua missão maior:a dedicação extremada às sementes apenas brotando,seu bebês...
Aleitamento,como a seiva vegetal para as plantas,alimento original para a gente.
Aperfeiçoou-se,ainda,sobre crescimento e desenvolvimento,reaprendeu a brincar,como que cuidando de flores,muitas cores para as sua crianças...
Conheceu árvore pouco robusta,que mostrou-se doente,tronco oco,homem vazio,incurável...
Árvores comuns,no caminho...Alguma bela e descuidada e por isso mesmo inspirando cuidados, mas avessa à dedicação,sobrevivente apenas,cactácea...
A que cuidava conheceu aromas e temperos,para completar o conhecimento quanto as ervas que curam e acalmam...Nutrição além da comida.
Mas precisava de um jardim,minimamente organizado ou digno disto.Um jardim úmido,fértil,sob um céu calmo e sobre um chão firme para que toda a vida - semente,flor,árvore - plantada fosse sinal de amor exuberante e só.
Precisava,sobretudo ,da luz do sol,da brisa fresca,da chuva suave,tudo propício à árvore frondosa,viril,homem forte que,também sob seus cuidados,lhe desse a sombra do descanso confiante,proteção.

quinta-feira, 20 de março de 2014

Função

Este poema escrevi há muitos anos em homenagem ao meu avô paterno, Júlio Ribeiro de Aguiar, que nasceu e morreu no mês de março. Ele tinha o hábito de, encontrando uma bela folha,  "prepará-la" entre páginas de um livro para, depois, presentear-me.Eu a usava, então, como marcador de livros.É, portanto, no outono, quando mais me lembro desse gesto de carinho repleto de significados.Hoje, quer dizer saudade...



Uma folha amarelada,
desprendida
de um galho
em pleno outono,
deixa-se levar
por ruas e praças
ao sabor do vento...
Carregada
pela brisa
da ociosidade
encontra,enfim,
nova função:
marcar,num livro,                
uma página amarelada
pelo tempo
e ser manuseada,
com cuidado,
por seu dono(?)
(folhas amareladas não tem dono!),
que estuda
horas,
até que venha o sono,
tentando entender
o binômio folha-página
(amareladas...)
que acabou por virar
poesia!




segunda-feira, 3 de março de 2014

Forte,precisam-me,amedrontam-se.
Sem a bravura e o ímpeto da condução,nada sei.
Não quero.
E parece-me,sempre,tudo certo,até com os erros cometidos:contornei-os!

Frágil,não sou necessária e o medo é só meu.
Com a entrega,deixar-me levar,para não saber.
Quero.
E parece-me,nunca,tudo errado,até pelos acertos ocorridos:acatei-os.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Muitos quilômetros caminhei nestes primeiros dias do ano.
Perdi o peso que precisava.
Parece haver um vazio,mas é leveza...!

Continuo comendo aspargos e alho-poró,mas já não há aquele desassossego  de pensar que está faltando algum ingrediente para a próxima refeição.Faço o que tem de ser feito com o que tenho na dispensa e a sobriedade só é quebrada com uma taça de vinho,à noite.Leio mais uma página do livro.Quando acordo e vou para a janela olhar o dia que nasceu,lembro-me de mim e de quem sou.E de como havia me esquecido de que pode haver,sim,afeto,nos lugares e momentos mais inesperados,

Muitos quilômetros caminhei nestes primeiros dias do ano.
Ganhei a praia que precisava.
Parece solidão,mas é encontro...!