domingo, 27 de setembro de 2020

     André sempre foi um menino comunicativo, desde bebê. Caso fizesse um contato visual que o atraísse por algum motivo, estendia os bracinhos como que a se atirar ao colo de algum desconhecido.

        Bem levadinho,no período em que a vovó cuidava dele, entre os 8 meses (quando voltei ao trabalho) e 2 anos, antes de ir para a escola,já foi pego sentado sobre a mesa da sala de jantar, na qual subiu a partir da cadeira;e vivia escalando o cercadinho aonde ficava por alguns minutos por dia enquanto se preparava a sua papinha.

    Na escola, ainda no jardim de infância, fugiu em passeio pelo prédio, a procurar (e encontrar) o primo que já estava no ensino médio. E com seu charme libriano, cabelos muitos lisos e loiros, algo longos, olhos vivos e desinibição (eu diria: lindo!)logo estava sendo carregado pelas meninas colegiais de instinto materno aguçado.

    Participava alegremente, desde os dois anos, de todos os eventos culturais: apresentações, danças e coral. Nunca chorou de vergonha ou medo de subir no palco, como muitos de seus amiguinhos.E ainda, quando assistia às apresentações de outros grupos, ficava imitando o jeito das professoras baterem palmas...Sim, uma veia humorística!

    De constituição longilínea, embora sem grande estatura, magro, inspirava a preocupação de todos por bem alimentá-lo. Adorava verduras e frutas, praticamente tudo o que não engorda, e era exemplo na sala de aula por isso.Recomendava-se que as mamães enviassem lanches saudáveis para a merenda, principalmente frutas. As crianças "normais" só ganhariam o pãozinho ou biscoito, depois de fazerem o sacrifício de comerem, antes, a fruta. Mas com o André, tinha que ser ao contrário, a fruta era o prêmio se ele aceitasse comer o pão ou biscoito inteirinho. 

    Aprendeu a ler sozinho aos 4 anos em casa e, antes disso,  impressionava a todos na sala de espera de consultório médico ou conservatório ( aonde esperava o irmão), ao montar um quebra-cabeça de sílabas.Já era leitura!

    Em muitos desenhos e redações deixou registrada a admiração pelo seu maior amigo: o seu irmão Tiago que foi quem, aliás,o incentivou no aprendizado doméstico da leitura.

    Muito inventivo, a pérola que marcou para mim a exuberância do seu vocabulário para a idade foi o neologismo que criou e ensinou à família. Para ele, o oposto de favorito, era "piorito".Se, por exemplo, a cor que mais se gostava era a favorita, a que menos se gostava era a "piorita". E, então, vivia perguntando: "qual a sua comida piorita"? Se bem que, para ele mesmo, essa pergunta era difícil de responder:comia de tudo, embora na quantidade que lhe aprouvesse.

  De inusitado, fez o que chamo de autofonoaudiologia. Falava "plato" ao invés de prato. E sabia que estava errado. Então, me pedia para que o ficasse treinando, enfatizando o erre: "prrrrato". Até que aprendeu, e decidiu que não precisava mais desse treino.

        Nas férias em Amparo,com os primos,na casa dos avós, subiu em árvores,correu no gramado com a bola e fez de tudo para garantir momentos inesquecíveis, dos quais gosta de lembrar.

    Quando foi para o ensino fundamental e a fazer teatro, ninguém mais segurava o moleque. Era bom na coisa, foi a primeira criança da escola a ser convidada a participar do Grupo de Teatro composto apenas, até então, por adolescentes. Chegou a ganhar vários prêmios internos, do colégio, e a ser indicado como ator-revelação no festival da cidade.Mas esse talento, somado às experiências em sua vida pessoal e familiar, até vieram a prejudicar o seu rendimento escolar. Bem, nada que ofuscasse a sua inteligência e capacidade de comunicação e socialização. Porém, desistiu de fazer teatro.

    Socialização. Fazer amigos, é com ele mesmo.Contando com muitos conhecidos, amigos dos amigos, embora sempre ciente de quais os são,verdadeiramente.  

    Mudou de colégio, mudou de unidade no mesmo colégio, ao longo do ensino médio.Desconfio que para ir conhecendo mais gente.

    Teve a época do futebol na praia,  do futebol society , a justificar as aulinhas que recebeu desde os 5 anos. Experimentou o futevôlei, esporte popular nas praias de Santos.Gosta da maresia...pois ninguém é de ferro!

    Dorminhoco, de dormir cedo, aguenta firme as festas madrugada afora se é para estar entre amigos.

   Agora está na vibe da beat, percussão, justificando as aulas de música desde os 4 anos, bateria depois dos 10.Então,na quarentena, com a ajuda da tecnologia.

    Chegando aos dezenove, ainda não decidiu qual faculdade irá fazer e, sábio, tem a certeza de que isso não é tão importante assim como pensam, embora sinta algumas ondas de ansiedade quanto ao futuro, sentimento natural da juventude.

    A pandemia chegou no seu primeiro ano de Direito, morando sozinho na capital. Ah, estava tão bom! (não propriamente o curso...). Trancou a matrícula, pois ensino a distância decididamente não é a sua  praia. Acho que nem Direito o é.

    No modo standby, lendo livros pela metade, assistindo filmes, ouvindo as suas músicas, fazendo exercícios mais por vaidade que por saúde, reclamando do distanciamento social, tem vivido se perguntando o que irá fazer quando chegar a vacina, se estudar inglês fora (viajar e fazer novos amigos) e trabalhar ou escolher um novo curso universitário e trabalhar,também.

    Quer é não morar mais com a mãe mas, enquanto está aqui, me abraça e me beija muito e isso é o que importa, o que fica. Aguento as suas neuras também...haja paciência! No abraço, sinto as suas asas e não irei cortá-las, nunca. 

    Sempre disposto a descobrir novos sabores na culinária,fera na redação, interpretação de textos e análise de conjuntura.Esse é o André,todo coração, em busca da batida perfeita.