Estava tão, tão perto do mar que, mais que isso, só se
tomasse um barquinho ou – por que não? – um grande navio e fosse além, para ver
como seriam, afinal, todas essas coisas que lia - como se visse – nos livros.
Não, não sabia
se haveria viagens, sempre desejadas, ou se apenas ficariam no plano da
imaginação, assim, apenas folheadas. Talvez não tivesse desejado com desejo
suficiente pois, quem quer mesmo, vai, deixa tudo para trás.
Sobre
desejos, sabia alguma coisa, sim. De o ser (desejada), até mesmo por aqueles
tempos, de mais da metade da vida. Com o verbo conjugado na primeira pessoa
tinha algumas dúvidas. Singular. Nunca sabia se seria possível, a
impossibilidade diretamente proporcional – parecia – à intensidade do desejar.
Mas é assim mesmo, diriam, para todos, o mover da própria vida, de fugidio
destino.
No entanto,
vislumbrava descobertas que já lhe faziam companhia, estratégias de
sobrevivência para dali - mais de meia vida – adiante. Elegância, mais que
beleza; bagagem cultural mais que entretenimento; irreverência, mais que
costume. Na praia, caminhando, as associava aos elementos do lugar. Pela areia
desmanchavam-se as convicções da juventude, quando a beleza era toda entendida
no contexto da pouca idade, sem manchas e cicatrizes. Das montanhas que
compunham a paisagem, pensava roubar a força, o tônus muscular, que insistia em
favorecê-la até então: e desfilava altiva, olhada, quase nua, viva! O sol,
recebia para lhe dar cores de alegria, como fosse a luz de todo o conhecimento já
lido, energia carregada, uma bagagem que – incrível! – ficava mais leve a cada
passo, para continuar iluminando até o ocaso do dia e, então, encontrar-se com
as histórias lidas todas as noites, depois de procurar da janela a lua.
No mar, contemplando
ou sentindo na pele, encontrava a sintonia com a irreverência. Ondas que a refrescavam,
derrubavam, despenteavam, acariciavam, deixavam molhada, levavam a desobedecer ao
padrão que é o dos que não mergulham por temerem as incertezas da imensidão.
Ela, não.
Estava tão, tão
perto do mar... e emergia, sempre, de seus naufrágios: assim, nua, em seu quarto
com a vista privilegiada, escolhia suas roupas de viver, abria seus olhos
em grandes óculos de enxergar a essência de tudo que vive, ajeitava seus
cabelos naturais cortados de modo a terem o movimento propício às danças loucas
de suas músicas preferidas.