domingo, 23 de março de 2025

(In) cômodos


Bem aí nesse lugar,

olhe para o batente da porta

do quarto do meio

e se lembre do gatinho,

testemunha de tudo,

sem receio

brincando  com os cordões 

da minha blusa.

Irá, sim, lembrar

em suspiro mudo,

que a falta de coragem 

não,não corta

a memória

Vai,usa,usa…!

Atormente-se na miragem

e queira mais e mais…

Temos história!

Na mesa da sala de jantar

os livros deixados,

eu escolhendo já,

você atrás…

Houve aquela noite fria…

Quarto, sala,

a chamada que abala…

mas

não, não faz acabar…

E, no balcão da cozinha,

manhã quente,

musiquinha

com suco de maracujá…




terça-feira, 18 de março de 2025

 

Que o pequeno

e doméstico contratempo 

seja o epílogo, 


a palha para o fogo,


a gota d’água - veneno, 


a vez do (só) nosso tempo.




quarta-feira, 5 de março de 2025

Veneno Cura II



Não é a sobriedade

do refinamento, de forma alguma.

Vê-se no andar, pés abertos,

pernas como que  jogadas à frente, 

braços com movimentos excessivos 

na marcha.

Fosse feliz e se veria.

Acordasse, seria.

Dama da triste figura, 

praticamente monocromática,

vestida com cores apagadas 

e poucos contrastes, 

presa à tradição, 

como sempre estão

os seus cabelos.



segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

 Nada contra quem quer continuar escondendo os branquinhos. Mas eu considero que, para manter os cabelos tingidos, eles tem que estar impecáveis. E não é o que acontece com a maioria. Nada mais feio do que estar com os cabelos tingidos e deixar aparecer fios brancos  perto da raiz, ainda que sejam poucos. E, para eu manter os meus assim impecáveis, eu já estava precisando retocar a raiz a cada 10 dias mas não tinha paciência para ficar 6 horas por mês no salão. Descolorir, para ir ficando cada vez mais loira também acho estranho, não quis, pois além disso, já não seriam 6 horas por mês, mas o dobro. Sei do que estou falando, pois experimentei essas coisinhas já. 

E o stress de precisar agendar o horário quando os fios estão crescendo e a raiz querendo aparecer? E a ansiedade nas viagens mais longas? Antes disso, eu já admirava as mulheres que deixavam os cabelos naturais: isso diz muito sobre a pessoa. Musas inspiradoras para mim. O etarismo direcionado especificamente ao feminino é muito forte em nossa cultura; não é a toa que o Brasil é o segundo país que mais consome tintura para cabelos, só perdendo para quem? Adivinhem! Os EUA. Infelizmente o nosso país segue imitando os norte-americanos. Pensemos: quem não tem, absolutamente, cabelos brancos deve estar com uns 30 anos. E não, eu não quero tentar parecer que tenho 30 anos, até porque os cabelos são apenas uma parte do conjunto, né ?(risos). Bem, os cabelos naturais são mais saudáveis e, sim, aparentam isso em comparação com os tingidos, que dias após o procedimento, já ganham opacidade e perdem movimento. Para não perder brilho, acaba sendo “necessária” a famosa selagem ( que também tem prazo de validade), a qual é feita à base de formol, o que é prejudicial à saúde (as tinturas devem ser, também, mas em menor grau). Só pra não ficar assim tão purista, fiz uma mecha colorida, em uma localização bem discreta na cabeleira, de baixa manutenção, pouquíssima química, pra brincar com o visual , outsider (como dizem aqueles gringos lá  -risos), pra mostrar que a idade é só um número. 


“Liberdade é pouco. O que eu quero ainda não tem nome” Clarice Lispector






segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

 

Clara-manhã

vê meus olhos em festa

Está na cara


não é vã


alegria como esta


Mas é também melancolia 


que vem da janela….


Do amor, uma fresta.


sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Acabei de ler um livro em que seres inanimados são testemunhas das vidas de pessoas e contam suas observações do cotidiano delas.

Inspiro-me para criar uma historieta. 

Há nomes de mulheres mas, das que tem vida, não saberemos, serão anônimas.


Antônia, que não é uma pessoa, aguarda as personagens que irão ocupar um de seus andares. 


Flávia, que também não é gente, havia lhe contado que por lá, no centro, reinava um cotiando cordial e entediante, remediado por longas ausências por quem mais se incomodava com a realidade arrastada dos dias sucessivamente monótonos. 


Antônia poderá ver então, com a mudança do cenário, na orla, mais conforto e, no entanto, movimentos mais engessados. A permanência será mesmo é a do controle, geograficamente facilitado então. 


O final feliz se dará quando, não Antônia e Flávia, mas as anônimas, puderem ter cada qual a sua recompensa de vida plena, sem enganos.