domingo, 23 de março de 2025

(In) cômodos


Bem aí nesse lugar,

olhe para o batente da porta

do quarto do meio

e se lembre do gatinho,

testemunha de tudo,

sem receio

brincando  com os cordões 

da minha blusa.

Irá, sim, lembrar

em suspiro mudo,

que a falta de coragem 

não, não corta

a memória

Vai, usa, usa…!

Atormente-se na miragem

e queira mais e mais…

Temos história!

Na mesa da sala de jantar

os livros deixados,

eu escolhendo já,

você atrás…

Houve aquela noite fria…

Quarto, sala,

a chamada que abala…

mas

não, não faz acabar…

E, no balcão da cozinha,

manhã quente,

musiquinha

com suco de maracujá…




terça-feira, 18 de março de 2025

 

Que o pequeno

e doméstico contratempo 

seja o epílogo, 


a palha para o fogo,


a gota d’água - veneno, 


a vez do (só) nosso tempo.




quarta-feira, 5 de março de 2025

Veneno Cura II



Não é a sobriedade

do refinamento, de forma alguma.

Vê-se no andar, pés abertos,

pernas como que  jogadas à frente, 

braços com movimentos excessivos 

na marcha.

Fosse feliz e se veria.

Acordasse, seria.

Dama da triste figura, 

praticamente monocromática,

vestida com cores apagadas 

e poucos contrastes, 

presa à tradição, 

como sempre estão

os seus cabelos.