sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

Movimento

Retornar.

Voltar atrás.

Dois passos

para a frente

e um recuo

estratégico

também é

caminhar...

Intensa,

impulsividade

incontida,sim!

Mas posso

mudar o rumo,

acertar o prumo.

Pequenas manobras

sofridas.

Atalho escuro.

Um desvio

arriscado,

contornar o muro.

Vender

o que se comprou.

Trazer de volta

as plantas.

Desfazer o escambo.

Retornar

ao partido.

Que nada

é o mesmo.

Eu mesma,

outrora coração

partido,

então sou fibra,

casca grossa.

Eu,a louca,

me apresento,

para provar

que a pulsão 

da vida

é,sempre,

movimento!






segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Sintomas de Liberdade

Tiago desde bebê já manifestava sintomas de liberdade. Quando percebeu que não precisava de estar no colo para se locomover, em sua linguagem ainda tatibitati,impulsionava o corpo para a frente e falava “fuô” que a mamãe logo entendeu que queria dizer chão. Isso nas calçadas de quarteirões movimentados perto de casa. Ainda bem que aceitava ainda a mão dada: e eu envolvia a mãozinha do jeito mais seguro possível, arrematando a preensão com o polegar e o mindinho circundando o pulso do meu menino: não me escaparia de maneira alguma. Amor infinito.

Caminhava na praia por quilômetros aos 2 anos! Juro que é verdade: certa vez fomos do Boqueirão, Santos, até São Vicente, Tiago caminhando, no colo apenas por pequenos trechos do percurso.

Caminhou em pequenas trilhas em Paraty nessa mesma idade, quando cantávamos: “ Canção da caminhada até o topo da montanha, canção da caminhada até o topo da montanha. O pé de trás passa pra frente, o pé da frente fica pra trás, o pé de trás passa pra frente, o pé da frente fica pra trás. E a gente vai andando e vai cantando a canção...”

https://youtu.be/d_b7XWXcPFk 

No início da adolescência, quando com a permissão de sair sozinho, preferia caminhar a pegar um ônibus para ir às aulas de inglês, em lugar algo longe de casa.

Aos 17, experimentou morar sozinho na Capital, a qual desbravou com as próprias pernas, entre as  necessárias baldeações de trem, metrô, ônibus. Assim foi começando a realizar o seu sonho de criança, o de conhecer estádios de futebol. Sabia que queria estar nesse mundo da bola, fosse jogando futebol ou colecionando estórias, autógrafos, figurinhas, fotos, livros, camisas e todo o tipo de objetos sobre o tema. Tendo aprendido a ler aos 5 anos, brilhante nas redações desde a educação infantil, ainda no ensino fundamental já sabia que queria ser um Jornalista do Esporte. 

Adorando viajar e espaços amplos, é inevitável que ganhe o mundo e o seu mundo particular, no qual caiba toda a sua coleção de sonhos e a sua paixão pela vida, que não cabe em si e traz sintomas de liberdade. 

Amanhã é 23. Tiago faz 23. Amor infinito.

segunda-feira, 11 de outubro de 2021

        Pois que o arbusto, da pequena muda que cresceu com vigor, folhas verdinhas e carregado de frutas, não me passa apenas a imagem da beleza por si só, do momento. Por que essa preocupação com o futuro,inata, que tanto nos desassossega? Esta foi depois que eu vi, em um recente passeio por um bosque encravado na selva de pedra, que a amoreira é, mesmo, uma árvore; muito mais que um arbusto,afinal. Não foi descoberta, claro; eu já sabia, que são muitas as amoreiras que vi nessa vida, desde a infância, nas férias no interior. Mas foi nesse passeio, o primeiro desde o início da pandemia,que isto ficou a martelar na minha cabeça.

        Das amoras maduras já fiz geleias, em duas tentativas.Em ambas errei o ponto, que como doceira, sou uma ótima enfermeira e até boa escritora.Na primeira tentativa o ponto errado resultou em uma pedra: bala de amora!Na segunda tentativa, ponto errado de novo, ficou muito fluida, mas da pra colocar sobre as torradas que me acompanham o chá da tarde e me deliciar, mais pelo prazer da colheita do que propriamente pelo sabor, que também é bom,sim!

        No entanto, segue-me o incômodo de pensar que esse belo arbusto, uma árvore em potencial, eu posso estar aprisionando no grande vaso de concreto. Grande é, mas até quanto? Incomoda-me, é verdade, promover qualquer tipo de limitação ao crescimento de o que quer que seja vivo.

        Tudo isso deve estar vindo à mente como idéias simbólicas, que se referem ao meu estado de espírito atual.É que depois de passar algum tempo com os pés no chão, o quintal ficou pequeno e o desejo de mais espaço interno e a vista do céu surgiram,urgiram. Voos dos Cambacicas e do grande Bem-Te-Vi, visitantes assíduos à amoreira, parecem tão seguros!E eu aqui pensando sobre voos e riscos, os meus riscos, eu tão só nas decisões há mais de uma década...

        Enquanto decido sobre as decisões menores atreladas às maiores, tenho uma das pequenas que já está certa:não farei mais geleias, que as visitas dos passarinhos tem sido cada vez mais frequentes,tanto mais quanto vão brotando as amoras. Como uma despedida de mais uma fase, regalam-se e matam a fome, enquanto me presenteiam com o alvoroço - uma amostra da vida lá fora - com seus vôos seguros, que me inspiram.

        Entre as decisões menores, não menos importantes, está o destino dos grandes e pequenos vasos com as plantas. Imaginando, já, a amoreira perto da janela da sala, os galhos para o céu, para a nova vista,para as novas visitas, até que árvore se torne.




quarta-feira, 9 de junho de 2021

Fantasia

Descalços pés

sob o blue jeans


Pego a visão 

e através

crio mais enredo


          

                            paixão

                          sem medo

que mil folhetins 

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

O quarto

As cores invadiram o quarto sem pedir licença.
As coisas todas escolheram os seus lugares inapropriados para estarem por algum tempo, não se sabe quanto.
Empurraram para fora dos espaços papéis inúteis, pedaços de histórias que foram.
Das inutilidades que permaneceram, apenas as que davam gosto de olhar ou sentir de olhos fechados.

E tudo ficou assim, como fosse imutável, sem ser, já que nada é.
Harmonia, surpreendentemente autônoma, de geração espontânea.

Até a vista da janela, que da a visão para um muro ainda muito branco e lembra o cal de uma casa grega nunca vista, compõe, incorpora.

O pedaço do céu, contém os ramos de uma árvore que está do outro lado do muro. 
É por causa dessa árvore que não há silêncio absoluto até o anoitecer pois parece que por algum motivo todos os pássaros dos arredores vieram pousar e esvoaçar, demoradamente; e vão ficando por perto tão barulhentos quanto escondidos.

Choveu forte há pouco e o calor evaporou.
O frescor sutil parece apontar para as germinações todas do pequeno quintal. 
O poeta, urgente de flores e folhagens, enquanto o mar parece longe,  escreve, porque o mundo cabe aqui e agora.